São as pessoas que eles querem acorrentar: sobre a imoralidade dos conservadores anticapitalistas
Não é incomum ouvir os esquerdistas reclamarem sobre “o mercado sem restrições.”
Os conservadores anticapitalistas
Nas últimas semanas, vozes conservadoras proeminentes começaram a repetir pontos de discurso de estilo esquerdista sobre a suposta “imoralidade” do livre mercado. Começou com o monólogo de Tucker Carlson em 2 de janeiro, no qual ele zombou de muitos conservadores por pensarem que o mercado é “sacrossanto” (uma ~difamação típica de esquerda), e argumentou que o livre mercado era, pelo menos parcialmente, culpado pela quebra da família nos Estados Unidos rural.

Apesar de alguns conservadores (com razão) chamarem a atenção de Carlson por sua propaganda populista de vítimismo e por sua análise histórica mal feita (a melhor delas foi provavelmente esta peça de David French na National Review), outros conservadores parecem ter tomado o seu monólogo como um sinal de que era seguro para eles enfiar os dedos dos pés um pouco mais fora do armário do sentimento anticapitalista.
David Brooks escreveu um artigo logo após o monólogo de Carlson, “A Repreensões do Mercado.” A implicação óbvia do título é que de alguma forma o mercado foi desmoralizado. Alguns dos principais supostos pecados do mercado que Brooks cita são o fato de que alguns gerentes de hedge funds poderiam ganhar salários de bilhões de dólares, e o fato de que algumas empresas bem-sucedidas (como a Apple) conseguiram reduzir sua carga tributária (ele até insiste que “os funcionários da Apple devem estar humilhados e envergonhados”).
Aparentemente Brooks concorda […] que é imoral ganhar muito dinheiro por meio do livre comércio, e que é ainda mais imoral encontrar maneiras de manter o seu próprio dinheiro seguro contra os burocratas saqueadores e gastadores do governo.
Rod Dreher […] seguiu o monólogo de Tucker com seu próprio artigo no qual[…] elogia as políticas econômicas de [Elizabeth] Warren e até afirma que elas são “fundamentalmente conservadoras, em um sentido mais antigo e orgânico”. Claro, ele pode estar certo. Pode haver uma margem de sobreposição entre alguma retórica conservadora sem princípios do passado e o socialismo “mais suave, mais gentil” sendo empurrado pelos progressistas hoje. Tudo isso provaria que os conservadores nem sempre foram os melhores em articular sua própria posição de maneira consistente, o que, é claro, não deveria vir como notícia.
O importante é notar que os intelectuais conservadores (as mesmas pessoas que deveriam ser os defensores do capitalismo) estão começando a unir forças com os intelectuais de esquerda e os guerreiros da justiça social para travar uma guerra moral total contra o capitalismo de mercado livre.
Quem, então, vai fornecer uma defesa? Somente aqueles que entendem que a guerra é realmente moral; ou seja, apenas aqueles que estão preparados para dar uma defesa moral do capitalismo.
Essa é uma das nossas principais missões aqui no For The New Christian Intellectual. Aliás, o fato de que esses intelectuais conservadores que estão traindo o capitalismo todos afirmam ser cristãos pode te dar uma dica sobre o motivo por trás do nosso nome. Nosso objetivo é fornecer uma defesa moral para o capitalismo, e equipar outros cristãos a fazer o mesmo.
A Moralidade & o mercado
Para defender a moralidade do livre mercado, precisamos primeiro entender o que é.
Não existe uma entidade nebulosa, desencarnada chamada “o mercado”. O conceito de “mercado” é apenas uma forma abreviada de resumir todas as escolhas feitas por essas pessoas individuais em suas vidas diárias.
Então, quando falamos de um “mercado livre” o que queremos dizer é um povo livre. E quando eles falam de um “mercado acorrentado”, o que estão falando é de um povo acorrentado. Naturalmente, ninguém quer ficar preso na posição de argumentar por se colocar as pessoas em correntes, então preferem falar sobre o mercado como uma mera entidade abstrata que existe em separado das escolhas individuais que o compõem. Como resultado, eles acham que se justificam algumas expectativas bastante selvagens sobre o que o mercado deve fazer.
Sobre as supostas “falhas” do mercado
Uma reclamação comum parece ser sobre a capacidade proporcional do mercado de corrigir certos males sociais. David Brooks comenta:
“Em uma sociedade saudável, as pessoas tentam equilibrar um monte de prioridades diferentes: econômica, social, moral, familiar. De alguma forma, nos últimos 40 anos, as prioridades econômicas tomaram o primeiro lugar e obliteraram tudo o resto. Como uma questão de política, nós privilegiamos a economia e então, por fim, não conseguimos mais ver que poderia haver outras prioridades.”
O que Brooks tem em mente como a maneira ideal de equilibrar essas “prioridades”, e de que forma ele acha que a economia “obliterou tudo o resto” nos últimos 40 anos? Ele nos diz:
“Por exemplo, houve uma mudança marcante na forma como as corporações se veem. Em tempos normais, as corporações atendem a muitas partes interessadas: clientes, funcionários, as cidades em que estão localizadas. Mas, hoje em dia, as corporações se veem servindo um propósito e uma parte interessada: maximizar o valor para os acionistas. Os investidores ativistas exigem que cada empresa reduza impiedosamente o custo de seus funcionários e ferre, sem piedade, sua cidade natal se isso aumentar o preço das ações a curto prazo.”
Agora lembre-se, a queixa de Brooks é sobre como o capitalismo de livre mercado “oblitera” todas as outras “prioridades” sociais.” Como? Ao permitir que as corporações tenham como objetivo lucrar (ou seja, “maximizar o valor dos acionistas”). O motivo do lucro é o problema, de acordo com Brooks. Em vez de fazer lucro (e assim “ferrar” sua cidade natal-como se os lucros fossem feitos às custas dos outros), Brooks acha que as corporações devem ser forçadas a “servir” suas comunidades. Esse é o propósito moral das corporações, de acordo com Brooks.
Ah, a ironia hipócrita
Agora isso é interessante, e não pouco irônico. Brooks se queixa de que a economia tem suplantado outros aspectos da vida, e como elaboração sobre esta queixa, ele explica que quer que o mercado se infiltre e “sirva” todos os outros aspectos da vida. Qual dos dois? Ele quer que o mercado deixe os outros aspectos da vida em paz, ou quer utilizar o mercado para manipular esses outros aspectos da vida? Ele quer manter o mercado “em seu lugar”, ou quer que ele se infiltre e mexa com outras áreas da vida social?
Carlson faz um movimento semelhante. Ele denuncia, enfaticamente, a ideia de que o livre mercado possa ser uma cura para todos (como se os defensores do livre mercado pensassem que fosse), observando que não se alcança a felicidade automaticamente, com um PIB mais alto. Mas, então, ele culpa o mercado por todos os tipos de males sociais, desde o uso de drogas até a destruição da família.
Dreher, da mesma forma, quer que o mercado faça mais do que simplesmente entregar as mercadorias. Ele cita,, com aprovação Yuval Levin, editor da National Review, que afirma que os motivos de mercado “podem ser muito ruins para a família e a comunidade.”
Como a esquerda anticapitalista, esses conservadores anticapitalistas não têm autocrítica para perceber que são eles que estão fazendo do mercado um ídolo de culto. São eles que esperam que o mercado seja uma panaceia para todos os males sociais, desde a piedade pessoal até à saúde moral geral da comunidade. Querem substituir a Igreja com o mercado. E eles têm a audácia de nos acusar (os que promovem o capitalismo de livre mercado) de “adorar” o mercado. Querem que os bens materiais comercializados no mercado produzam os valores espirituais de caráter moral. E chamam a nós de materialistas. Como os hipócritas da esquerda, esses conservadores anticapitalistas são culpados dos mesmos pecados pelos quais afirmam condenar o capitalismo.
Mas, além dessa hipocrisia flagrante, há um problema mais fundamental com suas expectativas para o mercado: ele não deveria fazer todas essas coisas. Na verdade, o mercado não “deveria” fazer nada. E é aqui que a moralidade se aplica verdadeiramente ao mercado: não no que ele faz, mas no que ele é.
Como foi dito acima, o “mercado” é apenas uma forma abreviada de se referir à vasta matriz das escolhas humanas na sociedade. Portanto, quando pensamos no mercado devemos ter em mente, antes de mais nada, o conceito da escolha individual.
Dizer que o mercado deveria ter “feito” alguma coisa (como manter as famílias unidas, por exemplo) é dizer que a confluência de cada escolha humana na sociedade deveria ter resultado naquela coisa. Culpar o mercado pelo colapso da família é culpar as escolhas de cada indivíduo na sociedade por esse colapso. É uma forma de transferir responsabilidade para todos os outros, para a sociedade em geral. Esta é apenas uma versão “family-friendly”[para toda a família] do coletivismo da esquerda (que, aliás, não é realmente amigável [friendly] para com a família).
Os fins coletivistas justificam os meios sangrentos
Este equívoco coletivista sobre a natureza do mercado embasa a maioria das outras objeções que os conservadores têm contra ele também. Considere o apelo para “equilibrar” os interesses do mercado com outros interesses sociais, que foi mencionado por Brooks acima e é mais detalhado por Yuval Levin em seu artigo na National Review:
“Os mercados e uma ordem moral tradicional caracterizada por compromissos com a família, fé, comunidade e país também podem estar em grande tensão uns com os outros. O mercado valoriza a tomada de risco e a destruição criativa, que pode ser muito ruim para a família e a comunidade… As coisas que valorizamos estão, portanto, por vezes em tensão umas com as outras… Uma chave para encontrar esse equilíbrio é reconhecer que o mercado é um meio, não um fim.”
Estes conservadores vêem o mercado como estando “em tensão” com outros valores sociais, como “fé, família, comunidade”, etc… Mas tal “tensão” só é possível se nos juntarmos aos coletivistas da esquerda, esquecendo que o “mercado” é apenas uma forma de falar sobre escolhas individuais em relação à riqueza material. A única maneira de as escolhas econômicas de outros indivíduos na sociedade poderem ser vistas como uma ameaça à própria “fé, família, [ou] comunidade” é se alguém pensar que essas coisas dependem de forçar as pessoas a escolher de forma diferente do que elas teriam feito. Eu não sei que “fé” Yuval Levin tem em mente, mas para se exercer a fé cristã certamente não se requer força física a fim de que ela seja saudável. Nem paraaa uma concepção propriamente cristã de família ou comunidade.
Note também que a única maneira de alcançar esse objetivo coletivista de “equilíbrio” é se alguma pessoa (ou grupo de pessoas) tentar algum tipo de calibragem da economia (novamente, como se a economia fosse algo separável das escolhas individuais de que ela se compõe. Na realidade, qualquer tentativa de calibrar o mercado é uma tentativa de manipular indivíduos, seja pela força ou por fraude.)
Além disso, observe como Yuval Levin sugere que resolvamos a suposta tensão. Ele diz que devemos “reconhecer que o mercado é um meio, não um fim.” Esta frase muito sucintamente demonstra a imoralidade fundamental de como esses conservadores pensam sobre o mercado.
Eles vêem o mercado como uma ferramenta para ser usada na construção de uma boa sociedade. Mas, novamente, o mercado é apenas a soma das escolhas individuais. Tratar o mercado como uma ferramenta é tratar os indivíduos como ferramentas. Quando dizem que “o mercado é um meio, não um fim”, estão dizendo que as vidas de homens e mulheres individuais são meros “meios” para serem usados para seus fins coletivistas. Isto é o que eles querem quando pedem “limites”, “rédeas” e “grilhões” para serem colocados no mercado. O que eles estão realmente pedindo é a limitação, o controle e a restrição de homens e mulheres individuais. Os que zombam de um mercado desenfreado estão meramente tentando mascarar sua própria luxúria pelo poder desenfreado.
Para esses homens, o mercado – e, portanto, as escolhas individuais que o compõem – é, meramente, uma ferramenta para eles utilizarem como acharem melhor. Eles são utilitários, inteiramente, para quem o fim de sua sociedade ideal justifica os meios de acorrentar pessoas inocentes individuais.
Assim como os progressistas de esquerda, esses conservadores acreditam que não há restrições morais em suas tentativas de manipular o mercado, desde que estejam fazendo isso por qualquer coisa que tenham escolhido definir como “bem comum.”
E se a empresa de paisagismo local quiser lucrar contratando imigrantes (legais) que estão dispostos a trabalhar por menos dinheiro do que um “nativo americano”? Carlson não se importa com os proprietários individuais dessa empresa, assim como Brooks não se preocupa com os acionistas individuais da Apple, que também querem obter lucro. Se o bem comum de “fé e família” (seja lá o que isso signifique) exige que eles sacrifiquem seus lucros, então assim seja.
Esses conservadores abandonaram completamente o conceito de direitos individuais inalienáveis e, assim, abandonaram a única restrição moral à força do governo. Enquanto as escolhas livres dos indivíduos são vistas como um mero “meio para um fim”, a liberdade pode, e será, tirada sempre que, e em qualquer medida, seu “fim” arbitrário for percebido como estando em perigo.
E não importa quão nobres seus fins professados pareçam ser, o único fim inevitável dessa monstruosa mentalidade de “os-fins-justificam-os-meios” é um derramamento de sangue em massa, como tem sido testemunhado repetidamente ao longo dos últimos séculos. Uma vez que você retire a barreira moral dos direitos individuais, e substitua por alguma noção nebulosa do “bem comum”, a única coisa que impede o derramamento de sangue é o tempo e o acaso, ambos os quais se gastam muito rapidamente. Enquanto os conservadores concordarem com os esquerdistas em seu desprezo pelos direitos individuais, tal derramamento de sangue será o fim para os Estados Unidos também.
Ainda há esperança
Mas não tem que acabar assim. Ainda há esperança, por mais ténue que seja, para que os Estados Unidos volte às suas raízes; volte àqueles princípios fundamentais que até agora o protegiam daqueles fins sangrentos de outras nações. Ainda podemos despertar o espírito americano de liberdade, responsabilidade pessoal e direitos individuais inalienáveis. Mas somente se falarmos com ousadia e absoluta convicção moral contra todos aqueles, tanto da esquerda como da direita, que cobiçam o poder na tentativa de transformar a vida e a riqueza de alguns homens em meios de outros. Somente se recuperarmos a superioridade moral que é nossa por direito.
Nós, os defensores do capitalismo de livre mercado, somos os que verdadeiramente promovem a moralidade do mercado, porque somos os únicos que aderem estritamente aos princípios morais. Somos nós que não deixamos de lado esses princípios para a conveniência pragmática do momento. Não sacrificamos nossos princípios morais no altar utilitarista e coletivista do “bem comum.”
Eles, os inimigos do capitalismo de livre mercado, são os idólatras, que anseiam substituir e suplantar, tanto a família quanto a Igreja, pelo mercado. Eles são os verdadeiros materialistas, que reduzem todas as virtudes humanas a problemas que pensam que podem ou devem ser resolvidos manipulando o mercado. Eles são os que fazem concessões morais que estão ansiosos para jogar fora o único princípio moral que protege os homens do domínio da turba em prol de seus fins utilitários; para evitar a clareza do pensamento moral “preto no branco”, a fim de se contentar com o conforto do covarde de espreitar na lama cinza do “equilíbrio” e “tensão.”
Estes inimigos “conservadores” do capitalismo estão revelando a realidade subjacente de que, na convicção fundamental, eles concordam com a esquerda progressista e seus guerreiros da justiça social. Eles são pessoas que fazem concessões morais, cobiçosos do poder e socialistas medíocres.
Eles não têm a visão nem a convicção morais para liderar na defesa do capitalismo.
Os líderes conservadores competentes reconheceriam e promoveriam o papel essencial dos direitos individuais inalienáveis como uma proteção contra qualquer grupo de pressão com poder. Eles pediriam uma separação da economia e do estado, pela mesma razão que pedem uma separação da igreja e do estado. Eles falariam em princípios morais claros, ao invés de apelar a fins pragmáticos vagos. E eles não tentariam participar da tentativa insana de “equilibrar” os bons fins que não estão verdadeiramente em tensão uns com os outros para começar. Os líderes conservadores de que precisamos hoje são aqueles que, sem se desculpar, apelam ao capitalismo laissez-faire como único sistema social moral. Nada menos que isso será suficiente.
whttps://christianintellectual.com/anti-capitalist-conservatives/