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Por Theodore Dalrymple. Leia o artigo original no Salisbury Review.

Tendo feito minha carreira observando o público e chamando a sua atenção para alguns dos aspectos menos atraentes do mundo moderno, particularmente quando eles se manifestam na Grã-Bretanha, sinto a necessidade de restabelecer um pouco o equilíbrio. Minha falecida mãe costumava se perguntar se minha associação com pessoas indesejáveis, como espancadores de mulheres e viciados em drogas, não distorceram minha visão da vida. Eu costumava garantir a ela que não; eu dizia a ela que essas pessoas não constituíam, mesmo hoje, mais de cinquenta por cento da população.

Durante muito tempo senti o paradoxo que pesava em minha mente de que, embora minha escrita tenha sido uma longa carta de queixa para meus contemporâneos (e escrevo todos os dias), minha própria vida é, e tem sido, perfeitamente satisfatória. Em retrospecto, nenhuma injustiça séria me foi feita pelas autoridades, ninguém nunca esteve maliciosamente no meu caminho para me impedir de fazer o que eu queria. Fiz mais ou menos o que quis, e não posso sequer alegar ter sofrido as conseqüências econômicas de tê-lo feito. Em grande medida, tive tudo e mais; meus conflitos, tais como foram, eram contra mim e meu caráter: preguiça, arrogância, ignorância e coisas do gênero. Não posso afirmar ser um herói moderno, isto é, uma vítima de alguma coisa. Até meus fracassos são meus.

Minha felicidade não deriva apenas do fracasso da autoridade em me oprimir de maneira preocupante (a menos que você conte o imposto de renda e outras imposições crescentes). Ao contrário da impressão que dei às vezes, inclusive à minha mãe, foi que minha vida era em grande parte uma questão de evitar a – e fugir dos horrores da -existência moderna, do vômito bêbado na sarjeta à goma de mascar recém-aplicada à parte de baixo de assentos em ônibus e a ameaça de jovens de rosto ferozes com capuzes e moletons, acho muito da minha existência não só agradável, mas tornada agradável pelas muitas pessoas prestativas e bem-humoradas que conheço e que me prestam serviço, embora eu sinta que não tenha feito nada para merecer isso.

 Quando vou ao meu correio local, fico repetida e agradavelmente surpreendido, e até mesmo honrado, pela cortesia e disponibilidade da equipe. Eles não são muito bem pagos; muitos de meus amigos considerariam seus salários como pouco mais que trocados. No entanto, eles são infalivelmente alegres, não apenas para comigo, mas para com todos os demais. É evidente que eles não são motivados por dinheiro. Exceto por uma completa desonestidade ou por serem tão desagradáveis aos clientes que dariam origem a um grande número de reclamações, não importa para eles se os clientes vão se sentir incentivados por suas maneiras ou pelo contrário. Por isso, sou forçado à conclusão animadora de que são pessoas boas e comuns, a quem dá prazer dar satisfação a outras pessoas, independentemente de recompensas mais tangíveis. Como Adam Smith diz: ‘Por mais egoista que possa ser o homem, há evidentemente alguns princípios em sua natureza, que o interessam na fortuna de outros, e tornam sua felicidade necessária para ele, embora ele não obtenha nada com isso, exceto o prazer de vê-lo.” Sem dúvida, isso não é verdade para todos os homens sem distinção, mas é verdade para um número suficiente, incluindo esses funcionários dos correios, e espero, para nós mesmos, para tornar todas as nossas vidas muito melhores do que seriam de outra forma.

 Poder-se-ia quase dizer que todas as interações felizes são felizes da mesma maneira, todas as interações infelizes a seu próprio modo, o que é em parte porque se escreve sobre as últimas muito mais. Quando recebo algum serviço feito voluntariamente e dado de bom grado (não é verdade que nenhum servidor público jamais forneça serviços dessa maneira, especialmente bibliotecários, coletores de ratos e bombeiros), não fico apenas com meu humor elevado, mas preso a um sentimento de culpa, que eu não expresso minha gratidão com força suficiente, e de que tantas vezes pareço não valorizar o serviço. Uma das razões para essa culpa é que eu conheço muito pouco a vida das pessoas que atendem às minhas necessidades. Eu suspeito que um tipo de heroísmo silencioso é muito mais comum do que supomos.

 Quando sou servido em um restaurante onde o serviço é agradável e atencioso, sinto uma ansiedade incômoda por estar sendo mimado. Eu não sinto com relação aos jovens que estão servindo como um meio temporário de se manterem enquanto completam os estudos ou avançam para uma carreira brilhante, mas sim com relação aos antigos funcionários de carreira. Como é a vida deles quando o restaurante fecha à noite, para onde eles vão, e com que recompensa pelo serviço difícil e não valorizado que eles prestaram a muitas pessoas que os ignoraram? Não é a vida deles, humilde e monótona como deve parecer a muitos intelectuais, que em seus corações desprezam, um exemplo de heroísmo silencioso?

 Enquanto permanecia por um tempo em Jersey, comecei a conversar com um garçom em um restaurante indiano lá. Ele tinha cerca de trinta anos, de origem bengalesa, embora estranhamente ele também tivesse trabalhado em um restaurante na cidade de Shropshire, onde eu moro. Sua história era interessante e inspiradora. Sua maneira era agradável sem ser adulativa.

 Ele não era, como eu supusera, um parente do dono do restaurante. Ao contrário, ele percorrera o país, trabalhando em vários restaurantes, de alguns meses a dois anos, vivendo em alojamentos e economizando seu dinheiro. Ele gostava da vida e já havia economizado dinheiro suficiente para comprar uma casa no ato; ele agora estava economizando para se casar. Sentia falta da sua família, mas de vez em quando conseguia voar para casa para os ver. Ele era um jovem que havia traçado seu caminho na vida para si mesmo e, obviamente, estava satisfeito com isso, independentemente se isso serviria ou não a alguma outra pessoa. Aquele caminho me pareceu ser, de uma maneira tranquila, heroica, admirável e útil aos outros. Outro garçom de origem bengali, desta vez em Llanelli, no sul de Gales, também me deu muito prazer. Por acaso fiquei em Llanelli por algumas semanas, não sendo minha viagem totalmente diferente da do primeiro garçom. Ele começou a falar de sua vida e perguntei se ele já estivera no exterior. “Ah, sim”, ele disse. “Eu estive em Bangladesh – e na Inglaterra.” Em sua resposta encantadoramente inconsciente, falada com sotaque galês, que igualava Bangladesh e Inglaterra como países exóticos a ele, estava a evidência de uma integração real e espontânea, não oficial, ideológica ou burocraticamente patrocinada, ao novo país de sua família, o País de Gales. Aí estava motivo de um pouco de otimismo leve.

 Havia muitos pequenos prazeres para se ter em Llanelli, o que não é a ideia de paraíso para todos. As pessoas conversam com você nos pontos de ônibus e, de forma muito interessante. Uma das coisas que eu sempre lembrarei do meu tempo lá foi conhecer um velho mineiro, em seus setenta e poucos anos, no ponto de ônibus a caminho do pub, para sua cerveja na hora do almoço, e um pouco de compras depois. Viúvo, ele estava vestido imaculadamente com um blazer azul na moda, uma camisa passada imaculadamente branca, gravata listrada de azul e vermelho com nó bem feito e sapatos lustrados em cujas biqueiras você podia ver o seu reflexo. Não para ele, que provavelmente conhecia as dificuldades reais do proletariado, a aparência cuidadosamente desgrenhada dos que nunca conheceram a verdadeira fome ou o frio. Para ele, vestir-se elegantemente era uma questão de respeito próprio; era um pequeno triunfo do espírito humano. Então, se estamos cercados, frequentemente, por evidências de degeneração, de egoísmo, de superficialidade, de grosseria e de má conduta, de tudo o que pode tornar a vida um tormento, então é muito mais importante que nós procuremos exemplos de profundidade de caráter, de bondade, de devoção ao dever e de tudo o que pode tornar a vida um prazer para nós. Eles ainda abundam.

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Editorial

Colunista do Conselho Internacional de Psicanálise.

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